terça-feira, 9 de outubro de 2012

O abate da classe média

Nota do dia, da Dra. Anabela Estanqueiro, Quarta-feira, dia 9/10 (final noticiários 13H, 17H e 19H)
Na semana passada, foi feito o anuncio do derradeiro abate da classe média, por parte de um governo que se encontra em morte cerebral, pois que, apenas está a ser ventilado e desta forma ligado à vida de forma artificial. Isto numa fase em que as pessoas não aguentam mais qualquer sacrifício acrescido. Com efeito, o atual estado do desemprego com que o nosso pais se debate, que em breve atingirá os 20% e o numero exorbitante de insolvências que varre praticamente todas as nossas empresas, provoca um sentimento generalizado de desanimo O cidadão comum de classe media começa a sentir-se incapaz de fazer face sequer às suas mais elementares necessidades com alimentação e habitação, direitos estes constitucionalmente consagrados.


Constata-se de forma assustadora que se encontra claramente dificultado o acesso à assistência medica e medicamentosa, o que lança no desespero e no pânico um povo apelidado do melhor do mundo. Mas este povo de brandos costumes começa a nada ter a perder, depois de tudo ter aceite, feito e cumprido em prol da diminuição da divida publica, afinal em vão. E até as privações feitas em prol da entrega, com o amor exacerbado que só um pai ou mãe pode ter, de um curso superior a um filho, aquela quinta, aquele património valioso, que como o meu pai diz é a único que o filho não pode vender, pouco ou nenhum valor parece ser-lhe reconhecido, no nosso pais.

E tudo é mais revoltante a cada noticia que se vai conhecendo e estou a lembrar-me por exemplo, de uma das mais recentes, que dá conta de que a Tecnoforma, uma empresa de que o primeiro-ministro foi administrador até Agosto deste ano, foi a grande beneficiado por uma linha de crédito da responsabilidade do nosso presidente da assembleia municipal no tempo em que este membro do governo de Durão Barroso.

E por estas e outras tantas semelhantes, os portugueses começam a sentir que não há justiça, que não há equidade, mas sim troca de favores, que tem que ser compensados, retribuídos, pelo que as reações do povo começam a ser imprevisíveis .

Alias, quando tudo vale, mas os sectores fundamentais da sociedade, como a saúde, por exemplo, são aniquilados, as pessoas ficam de cabeça perdida…

Como alertou a ex ministra da saúde em declarações à agencia lusa sobre as expetativas quanto ao Orçamento do Estado de 2013, os anunciados cortes na saúde são dramáticos, face aos riscos e ao perigo para a saúde de qualidade dos portugueses, que lhes estão associados. Na verdade, está em causa a vida e a integridade física e até moral de seres humanos e esses bens supremos não se coadunam com meros critérios aritméticos alcançados no recato de gabinetes decorados de forma sumptuosa.

E correlacionado com esta questão, mas na esfera do medicamento, iniciou-se recentemente uma acção de protesto e de sensibilização da população, designada “ FARMÁCIA DE LUTO” que envolve estudantes de farmácia, jovens farmacêuticos, sindicatos do setor, a Associação nacional de farmácias e farmacêuticos de oficina, com o objectivo de chamar a atenção do governo para o facto de as farmácias sempre terem estado perto das pessoas e assim deverem continuar no futuro”. Conforme consta da respetiva mensagem, as farmácias estão de luto mas não fazem greves”, estão em crise profunda mas continuam a trabalhar” , por isso cada um de nós deve contribuir para que a nossa farmácia não encerre.

Este protesto possivelmente não está a ter a dimensão e o impacto que merece porque estávamos habituados a relacionar o assunto farmácias, com gente bem posicionada na vida e até em certos casos com alguns monopólios. Porém, esta realidade já foi chão que deu uvas e na presente data as farmácias estão já a trabalhar com uma margem negativa e sempre que dispensam um medicamento o que recebem não é suficiente para suportar os seus custos. Não obstante, o que está aqui em causa, atualmente é o risco, a dificuldade, que já se verifica, no acesso das populações ao medicamento.

Na Grécia essa dificuldade já é uma realidade diária permanente e entre nós já se vai sentindo. Quem for atento, já constata que o medicamento que lhe foi prescrito pelo seu medico ou que não necessitando de receituário precisa de comprar, muitas vezes não está disponível na sua farmácia. E isto está a acontecer cada vez mais. É disso que se trata, do acesso ao tratamento por via do medicamento, algo que até há bem pouco tempo era impensável. Para lá desta dramática consequência, a concretizar-se o previsível encerramento de 600 das 2.900 farmácias existentes em Portugal, sentir – se - ao implicações graves a nível de emprego, pois que, 100 mil famílias dependem direta e indiretamente das farmácias.

Por isso aproveito para apelar a que ,também cada um de nós apoie e divulgue esta iniciativa das farmácias em luto, pois que, desta forma, estará a lutar pelo seu próprio direito de acesso ao medicamento, e bem assim à saúde.